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É permitido envelhecer?


Em 2030, o Brasil terá a quinta população mais idosa do mundo, segundo matéria do Jornal da USP. E em 2050, 2 bilhões de pessoas terão mais que 60 anos, segundo dados da OMS. Outros estudos na área apontam ainda para o crescimento numérico dessa população, inclusive como força de trabalho.



Ageísmo, traduzido do inglês “ageism” (age = idade), foi um termo cunhado pelo psiquiatra americano Robert Butler, em 1969. Ele tinha interesse no estudo sobre idosos e usou este conceito para descrever o preconceito da sociedade contra pessoas mais velhas. Há traduções como idadismo, etarismo ou idosismo. O etarismo, por sua vez, seria “a discriminação contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos associados à idade”.



No cinema francês, apenas 8% dos papéis no ano de 2015 foram assumidos por mulheres acima de 50 anos. Em 2016, só piorou, sendo de apenas 6%. E há também o “curioso caso da companheira do herói que não pode envelhecer” como retratou muito bem a manchete do El País sobre a disparidade de idade entre os personagens masculinos e femininos, por exemplo, o James Bond, interpretado por Daniel Craig (53 anos) e a sua bond girl, vivida pela atriz Léa Seydoux (36 anos), O ageísmo, portanto, impacta mais diretamente na vida das mulheres.


Como afirma Mórris Litvak:

"[...] em uma cultura ‘jovem-cêntrica’ como a nossa, onde os mais jovens são exaltados e os mais velhos são esquecidos, é preciso repensar urgentemente os valores que nos levam a esse comportamento”.

E a moda também tem papel nisso, porque ainda que haja iniciativas como o blog e o documentário “Advanced Style”, a icônica Iris Apfel, a criação de agências de modelo especializadas em modelos com mais de 60 anos e campanhas com modelos desta faixa etária, a moda ainda, ao meu ver, vangloria a juventude esquecendo que o envelhecimento faz parte da vida de todo mundo.


É importante ressaltar que a juventude vai muito além da idade, é um estado de espírito, não é um número que define isso. Contudo, é fundamental que haja um olhar para este público que é muito significativo e tem características de consumo muito relevantes e representam uma parcela de grande impacto econômico, afinal


O caderno de tendências do Sebrae de 2019–2020 discorreu sobre o envelhecimento da população, sugerindo o termo “adulto+”, uma vez que “melhor idade” e “terceira idade” não foram bem recebidos. No entanto, confesso que a ideia de “melhor idade” sempre me incomodou, porque parecia uma teorização muito distante da realidade, já que nos deparamos com preconceitos em relação à idade, pressão estética principalmente em relação ao envelhecimento feminino, nos deparamos com um pictograma de vaga para idoso12 ainda totalmente estereotipado de modo negativo com aquela imagem de uma pessoa com a coluna inclinada e com uma bengala, há deficiência de políticas públicas e de oportunidades em diversos setores para esta população e a representação social do idoso na mídia é, na maioria das vezes, caricata.

A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) aprovou nesta quarta-feira (25) o Projeto de Lei do Senado (PLS) 126/2016, determinando que o símbolo utilizado para a identificação preferencial de idosos não pode mais ser pejorativo nem nivelar todos os maiores de 60 anos como cidadãos frágeis. Fonte: Senado Notícias


Por outro lado, claro que há pontos muito positivos, como a escolha de Maye Musk para ser garota propaganda da CoverGirl, em 2017.


No ramo de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC), algumas marcas têm desenvolvido linha de cuidados para pele na faixa etária de 60+ e 70+, produtos para cuidado dos fios de cabelo devido ao afinamento decorrente da idade e hidratantes corporais mais focados nesse público, por conta do ressecamento natural da pele. Apesar disso, ainda há muitas outras oportunidades de crescimento neste nicho.


As tendências neste setor apontam que a expectativa de vida está aumentando, que “a longevidade é o novo ouro”. Uma pesquisa americana da SBDCNet aponta que pessoas de 35–64 anos investem de 10% a 14% acima em comparação à média, em produtos e serviços de cuidados pessoais. O relatório Consumer Generations, da Tetra Pak, mostra que o poder de compra das pessoas acima de 60 anos deve superar os 30 trilhões de reais em todo o mundo este ano (2020).


É um público que, no geral, prefere qualidade a quantidade, possui renda mais consolidada e mais poder de decisão, são menos influenciáveis, apesar de estarem presentes em redes sociais e na internet de modo geral, são mais empreendedores e a faixa etária que mais cresce no mundo, têm mais tempo disponível e envolvimento emocional no processo de compras. Porém não é um público homogêneo e é isso que a moda precisa entender. A velhice não é mais a mesma de anos atrás, é plural, entretanto é preciso que a sociedade e a moda a enxerguem e se interessem em entendê-la para poder apresentar possibilidades a esse público.

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