Em 2030, o Brasil terá a quinta população mais idosa do mundo, segundo matéria do Jornal da USP. E em 2050, 2 bilhões de pessoas terão mais que 60 anos, segundo dados da OMS. Outros estudos na área apontam ainda para o crescimento numérico dessa população, inclusive como força de trabalho.
Os dados não param por aí. Em termos de mercado, os proprietários de negócios com 65 anos ou mais representam 7% do total do país, baseado em pesquisa feita pela Global Entrepreneurship Monitor. No entanto, de 2019 para 2020 mais de 400 mil brasileiros a partir dos 50 anos se tornaram desempregados e em 2020, com a pandemia, essa taxa superou 7%.
Ageísmo, traduzido do inglês “ageism” (age = idade), foi um termo cunhado pelo psiquiatra americano Robert Butler, em 1969. Ele tinha interesse no estudo sobre idosos e usou este conceito para descrever o preconceito da sociedade contra pessoas mais velhas. Há traduções como idadismo, etarismo ou idosismo. O etarismo, por sua vez, seria “a discriminação contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos associados à idade”.
Prova disso é que em 2015, ocorreu a criação da Atrizes e Atores Associados da França (AFFA) pela francesa Marina Tomé para lutar contra a ausência de atores a partir dos 50 anos nas telas do cinema e da tv. Outro exemplo recente foi do filme “A Escavação”, de 2021, inspirado na história verídica de Edith Pretty, uma mulher com 56 anos de idade que encontrou tesouros em seu imóvel na Inglaterra, mas que foi interpretada pela atriz Carey Mulligan, de apenas 35 anos. Será que não havia atrizes desta idade?
No cinema francês, apenas 8% dos papéis no ano de 2015 foram assumidos por mulheres acima de 50 anos. Em 2016, só piorou, sendo de apenas 6%. E há também o “curioso caso da companheira do herói que não pode envelhecer” como retratou muito bem a manchete do El País sobre a disparidade de idade entre os personagens masculinos e femininos, por exemplo, o James Bond, interpretado por Daniel Craig (53 anos) e a sua bond girl, vivida pela atriz Léa Seydoux (36 anos), O ageísmo, portanto, impacta mais diretamente na vida das mulheres.
Como afirma Mórris Litvak:
"[...] em uma cultura ‘jovem-cêntrica’ como a nossa, onde os mais jovens são exaltados e os mais velhos são esquecidos, é preciso repensar urgentemente os valores que nos levam a esse comportamento”.
E a moda também tem papel nisso, porque ainda que haja iniciativas como o blog e o documentário “Advanced Style”, a icônica Iris Apfel, a criação de agências de modelo especializadas em modelos com mais de 60 anos e campanhas com modelos desta faixa etária, a moda ainda, ao meu ver, vangloria a juventude esquecendo que o envelhecimento faz parte da vida de todo mundo.
É importante ressaltar que a juventude vai muito além da idade, é um estado de espírito, não é um número que define isso. Contudo, é fundamental que haja um olhar para este público que é muito significativo e tem características de consumo muito relevantes e representam uma parcela de grande impacto econômico, afinal
O caderno de tendências do Sebrae de 2019–2020 discorreu sobre o envelhecimento da população, sugerindo o termo “adulto+”, uma vez que “melhor idade” e “terceira idade” não foram bem recebidos. No entanto, confesso que a ideia de “melhor idade” sempre me incomodou, porque parecia uma teorização muito distante da realidade, já que nos deparamos com preconceitos em relação à idade, pressão estética principalmente em relação ao envelhecimento feminino, nos deparamos com um pictograma de vaga para idoso12 ainda totalmente estereotipado de modo negativo com aquela imagem de uma pessoa com a coluna inclinada e com uma bengala, há deficiência de políticas públicas e de oportunidades em diversos setores para esta população e a representação social do idoso na mídia é, na maioria das vezes, caricata.
A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) aprovou nesta quarta-feira (25) o Projeto de Lei do Senado (PLS) 126/2016, determinando que o símbolo utilizado para a identificação preferencial de idosos não pode mais ser pejorativo nem nivelar todos os maiores de 60 anos como cidadãos frágeis. Fonte: Senado Notícias
Por outro lado, claro que há pontos muito positivos, como a escolha de Maye Musk para ser garota propaganda da CoverGirl, em 2017.
No ramo de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC), algumas marcas têm desenvolvido linha de cuidados para pele na faixa etária de 60+ e 70+, produtos para cuidado dos fios de cabelo devido ao afinamento decorrente da idade e hidratantes corporais mais focados nesse público, por conta do ressecamento natural da pele. Apesar disso, ainda há muitas outras oportunidades de crescimento neste nicho.
As tendências neste setor apontam que a expectativa de vida está aumentando, que “a longevidade é o novo ouro”. Uma pesquisa americana da SBDCNet aponta que pessoas de 35–64 anos investem de 10% a 14% acima em comparação à média, em produtos e serviços de cuidados pessoais. O relatório Consumer Generations, da Tetra Pak, mostra que o poder de compra das pessoas acima de 60 anos deve superar os 30 trilhões de reais em todo o mundo este ano (2020).
É um público que, no geral, prefere qualidade a quantidade, possui renda mais consolidada e mais poder de decisão, são menos influenciáveis, apesar de estarem presentes em redes sociais e na internet de modo geral, são mais empreendedores e a faixa etária que mais cresce no mundo, têm mais tempo disponível e envolvimento emocional no processo de compras. Porém não é um público homogêneo e é isso que a moda precisa entender. A velhice não é mais a mesma de anos atrás, é plural, entretanto é preciso que a sociedade e a moda a enxerguem e se interessem em entendê-la para poder apresentar possibilidades a esse público.
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