“Fake Famous: uma experiência surreal nas redes” é um documentário lançado mundialmente em 1º de fevereiro de 2021 na plataforma HBO Max. Trata-se de um experimento social encabeçado pelo diretor Nick Bilton, um jornalista, colunista do The New York Times e autor britânico que escreve principalmente sobre tecnologia. Diante da sua experiência ao longo de anos, inclinado muito mais para o lado positivo das redes sociais, ele decidiu conceber esse projeto no qual foi feito o recrutamento de vários anônimos para que somente três fossem selecionados com o objetivo de se transformarem em influenciadores famosos.
Durante o desenvolvimento desta experiência, há compras de seguidores, de comentários e de curtidas falsas, além do uso de cenários fakes para fotos como a de um ambiente interno de um avião, a simulação de uma passeio numa floresta, quando na realidade se tratava apenas de um quintal e o ensaio fotográfico de imagens num dia de spa, que era uma foto numa bacia.
A problemática por trás desse documentário é muito pertinente e aflige uma parcela significativa da população, prova disso está num post que fiz sobre saúde mental e redes apontando dados que só reforçam isso. Julgar a vida do outro fundamentado na aparência é muitas vezes idealizar uma vida com base em recortes racionalmente escolhidos ou até mesmo admirar uma vida totalmente falsa.
As imagens não compõem uma cópia digna da realidade e o século XXI é considerado o século das imagens, que atualmente é cheia de ambiguidades, visto que se trata de uma representação, um simulacro. Neli Klix Freitas, em “Representação, simulação, simulacro e imagem na sociedade contemporânea” (2013), afirma que:
“[...] cada indivíduo atribui um julgamento de existências sobre as imagens e atribui a elas um referente real. A imagem não constitui o objeto em si, mas é a sua representação, o simulacro. […] Simular é fingir uma presença ausente, criar uma imagem sem correspondente com a realidade“.
No mundo das aparências, o simulacro age como uma mecanismo de defesa, como uma espécie de máscara social, mas que nem sempre culmina na felicidade esperada, o que me faz lembrar também de uma postagem que já fiz no Instagram, da obra “Notícias” de Alain de Botton:
“[...] uma sociedade em que todo mundo quer ser famoso também é uma sociedade em que, por uma série de motivos basicamente políticos (no sentido amplo), ser comum não é capaz de proporcionar o respeito necessário para satisfazer as pessoas em seu apetite natural por dignidade”.
O documentário mostra bem isso, ser famoso não responde às demandas destas pessoas, muitas vezes a necessidade é anterior, de se trabalhar o afeto não recebido durante a infância, a autoestima que não foi desenvolvida, dentre tantas outras coisas. A autoimagem é a percepção que temos de nós mesmos, por isso a validação do outro não será a resposta absoluta, pois se refere aquilo que precisamos identificar em nós mesmos, os nossos valores e ao se perceber isto, vem o vazio, pois a fama não irá preencher o que ainda não descobri e reconheci em mim.
“O sujeito pós-moderno faz morrer o verdadeiro, e o triunfo é do falso” (Neli Flix Freitas).
Comments